FEDERAÇÃO DOS BACAMARTEIROS DE PERNAMBUCO - FEBAPE

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

FESTEJAR A VIDA

Por Ivan Marinho*

O livro A Alma do Homem no Socialismo, de Oscar Wilde, me encorajou a retomar questões da adolescência que pensei não mais encontrar espaço de reflexão. Como escrevo diário desde os 16 anos, posso comparar os universos da juventude e a da pretensa maturidade. Morro de rir com as certezas de outrora e de chorar com as incertezas de hoje.
Duas experiências trago da infância que me põem inquiridor com relação ao destino humano: A da criação de pequenos mundos a partir de brinquedos que representavam a realidade e a de desenvolver, conscientemente, imagens com os olhos fechados. Inventar o próprio olhar foi o produto destas vivências, acrescidos pela possibilidade de gratuidade de experiências prazerosas com a própria imaginação. Tudo aquilo punha na berlinda a necessidade de poder.
Quando iniciei este texto ainda não havia ido à Cupira, cidade do agreste pernambucano, para a fazenda de Seu Luiz. Já me haviam comentado sobre o caráter lúdico e, por que não dizer, dionisíaco da festa de São João em Cupira, no entanto, me faltava fé para acreditar que em pleno séc. XXI, com a hegemonia do Mercado, com a competitividade instituída e aclamada, pudéssemos, no seio de uma classe média/alta, encontrar uma ação tão despojada de interesses, a não ser o de festejar a vida. Seu Luiz disse que aquela brincadeira vinha da época de seu avô e que seu pai, antes de morrer, pedira que seus filhos dessem continuidade. Pois é, como bem diz o capitão Bidel, da SOCIEDADE DOS BACAMARTEIROS DO CABO, “é muita comida, muita bebida, muito forró e muita ‘póiva’ (pólvora)”. Tudo passa da conta e a porteira é escancarada para todos da cidade e de fora. Encontramos gente do batalhão de Bonito, Cortez... e o grupo inteiro de Abreu e Lima, comandado pelo jovem bacamarteiro Boy.
Os tiros aconteceram praticamente sem intervalos. Cinco mil cartuchos. Os bacamartes ficavam em brasa e o estímulo sensorial contínuo deslocava a realidade externa, criando uma aura circunscrita àquele espaço e àquele tempo, num êxtase unificador, onde se diluíam todas as diferenças, todas as intenções.
Fizemos muitas apresentações nesse festejo junino: caminhadas pelo Recife, patrocinada pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife, apresentações para o Trem do Forró, entre tantas outras, no entanto, nada nos deixou com o sentimento de plenitude como nos deixou a festa de São João de Cupira, na fazenda de Seu Luiz.
E não se pense que foi pela gratuidade da comida, bebida e pólvora, pois isto é condição mínima quando se trata da brincadeira do bacamarte, mas pela gratuidade das intenções, que tinha como único interesse festejar.
A partir de experiências como esta é que podemos compreender o Oscar Wilde quando fala do sacrifício de alguns em se dedicar ao poder e a riqueza.

*Professor, especialista em Economia da Cultura pela UFRGS.

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