Há
três anos, a SOCIEDADE DOS BACAMARTEIROS DO CABO – SOBAC – iniciou uma campanha
em prol da conquista de sua sede, visto que se aproximavam as comemorações de
cinquenta anos desta que protagonizou a caracterização de pessoa jurídica no
que se refere ao folguedo em voga.
Em 2012, após recepção de
um mandado de despejo de uma pequena área pública situada no Mercadão, ocupada
pela SOBAC, na Rua da Estação, nº 17, Centro, solicitado pelo governo municipal,
a Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo se viu “sem teto”. A denúncia de desprezo
pelo patrimônio, que já havia sido aclamada na Conferência Estadual de Cultura,
espalhou-se publicamente pela rádio comunitária, em manifestações públicas, em redes
sociais eletrônicas e, chegando até ao Ministério Público, que se eximiu da
responsabilidade alegando que a política cultural correspondia à escolha
eleitoral da sociedade municipal, colocando, inclusive, que só poderia se
posicionar caso fôssemos Utilidade Pública do município.
O vereador Ricardinho apresentou, a pedido
da entidade, o Projeto de Lei de transformação da SOBAC em Utilidade Pública,
que foi aprovado por unanimidade na Câmara dos Vereadores do Cabo.
Perante boatos de que a SOBAC ocuparia um
prédio público, próximo à estação ferroviária, a entidade foi convocada
extraoficialmente pela prefeitura, a partir da intervenção do secretário de
desenvolvimento econômico, Sr, Deda, onde se estabeleceu, através de conversa
cordial, um prazo para localização da entidade num equipamento público. A SOBAC
se antecipou à pesquisa e recebeu informações de que o antigo prédio onde havia
funcionado a escola Pastor José Florêncio e, posteriormente, a Associação dos
Deficientes Físicos do Cabo, estava desocupado e sem projeto de funcionamento.
Levou a conhecimento do prefeito o pleito daquele prédio, por se localizar na
área antiga da cidade, por estar, parcialmente, com as características de
época, construída entre os séculos XVIII e XIX e se localizar num corredor cultural
que engloba a Escola de Música Ladislau Pimentel, a sede da Philarmônica XV de
Novembro Cabense, o Mercado das Artes, o Teatro Barreto Júnior, a Praça Poeta
Théo Silva, o largo festivo de Santo Amaro, a casa da poeta e criadora do hino
da cidade, D. Anita Melo, o arquivo público, etc. A proposta foi encaminhada
pelo executivo ao legislativo que, também por unanimidade, aprovou a cessão de
10 anos do prédio à SOCIEDADE DOS BACAMARTEIROS.
A SOBAC iniciou uma campanha, através das
redes sociais eletrônicas, rádio e porta-a-porta para captação de material de
construção para reforma, obtendo sucesso. A partir de serviços voluntários dos
próprios Bacamarteiros e de recursos de caixa das apresentações, bem como de
liberações do uso de rendimentos do Ponto de Cultura feitos pela FUNDARPE, a
casa foi reformada do piso às pinhas portuguesas da fachada. Toda a adequação
de segurança, como porta de ferro do arsenal, extintor, alarmes... exigidos
pelo Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército Brasileiro,
foi cumprida. E a sede passou a funcionar e, com o funcionamento da sede dos
Bacamarteiros surgiram cobranças da sociedade civil no sentido de abri-la a
visitações.
Carregada de referências vanguardistas, como
a criação de bacamartes em aço, elaboração do primeiro estatuto e regimento
interno, formação de primeiro pelotão feminino, grupo de primeiros socorros e
manifestação na capital do estado pernambucano, a SOBAC, reafirmou sua
liderança participando da criação da Federação dos Bacamarteiros de Pernambuco
– FEBAPE -, assumindo a presidência da mesma, aprovando projeto de Ponto de
Cultura em convênio com a Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural de
Pernambuco – FUNDARPE -; coordenando os quatro encontros Na Pisada do
Bacamarte, patrocinados pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife;
assessorando o Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados, do comando da
7ª Região Militar do Exército Brasileiro, na elaboração de uma nova Instrução
técnico-administrativa, que viesse a substituir a ITA 024/2002 já defasada;
intermediando embates jurídicos, como o caso do armeiro de bacamarte Lenilson
Ferreira da Silva, preso por confeccionar bacamartes, bem como por apreensões e
prisões de bacamartes e bacamarteiros do sertão. Estabeleceu a primeira
inserção do bacamartismo na internet, com o blog
bacamarteirosdepernambuco.blogspot.com, substituído pelo
bacamarteempernambuco.blogspot.com, etc.
A partir desta longa jornada, de cerca de 10
anos, a SOBAC estabeleceu relações com quase todos os grupos de Bacamarteiros
existentes no estado de Pernambuco e fora do estado, desenvolvendo condições
que inspiraram sua iniciativa mais recente: a criação do Museu Olimpio Bonald
de Bacamarte e da Biblioteca de Folclore e Cultura Popular Generino Bezerra.
Olimpio Bonald, pesquisador do bacamartismo na década de 1960, autor do livro
Bacamarte, Pólvora e Povo, acadêmico da Academia Pernambucana de Letras, doou
para a SOCIEDADE DOS BACAMARTEIROS DO CABO seu acervo iconográfico ligado ao
folguedo, que remonta os idos de 1920, bem como uma coleção de livros sobre
folclore e cultura popular, batizada de Bibioteca Generino Bezerra, um
ex-componente da SOBAC e do bando de Virgulino Ferreira, o Lampião, afeito aos
livros.
Além dos acervos cedidos, complementados por
doações de Fátima Parahin e da Fundação Joaquim Nabuco, a comissão organizadora
do Museu Olimpio Bonald de Bacamarte iniciou campanha de arrecadação com grupos
Bacamarteiros de todo estado de Pernambuco, criando um espaço de memória com
característica comunitária, preparando cidadãos comuns, brincantes, para
mediarem às visitações ao museu.
Paralelo à campanha de arrecadação, a SOBAC
encaminhou projeto, a pedido do deputado Federal Betinho Gomes, a fim de
receber recursos de emendas orçamentárias, com objetivo de modernizar, através
de implementos tecnológicos que venham a disponibilizar espaços de experimentos
sensoriais relacionados a pratica, criando, assim, um atrativo para as novas
gerações, possibilitando a releitura do folguedo, contribuindo para sua
permanência e readequação.
Com
o objetivo de fomentar um espaço vivo e participativo, o Museu reuniu líderes
do segmento de cultura popular locais, a fim de mobilizar para ações políticas
comuns, apresentou palestras formativas, realizou oficinas de pífanos e de
inclusão digital para idosos, bem como homenageou com a medalha do mérito
bacamarteiro, brincantes e apologistas do brinquedo.
O acervo transcende os objetos e imagens
característicos da prática específica do bacamarte, vale-se, também de objetos
e ícones que estão subjacentes à manifestação em si, como os de referência
religiosa e artesanais, cito: Pilão para pólvora; bandeiras; imagem dos santos
joaninos; colunas arquetípicas regionais, fundadas sobre o Pe. Cícero Romão
Batista, Cap. Virgulino Ferreira Lampião e o Rei Luiz Gonzaga do Nascimento,
simulacros de cartuchos, pólvora e espoletas, etc.. Uma coleção de fotos de perfis,
mostra as principais lideranças, mantenedoras do brinquedo no estado de
Pernambuco e monóculos apresentam nuances da manifestação.
As visitas agendadas, principalmente por
escolas municipais, como vem acontecendo, são acrescidas por palestras sobre o
bacamartismo e reprodução de vídeos onde se pode presenciar virtualmente a ação
bacamarteira.
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